Cidade entre nuvens
Nenhum lugar reúne elementos de misticismo e fetiche tão intricadamente quanto Machu Picchu. O sítio arqueológico invadido por turistas luta silenciosa e diariamente pela preservação física e histórica de sua essência enquanto pessoas de todos os cantos do mundo posam para a próxima selfie.
Em um dia nublado, em que a cidade por vezes se protegeu por completo na névoa, tive a oportunidade de registrar cenas de uma Machu Picchu com poucos turistas. Para tanto, foi necessário paciência. Cada clique buscou na ausência a oportunidade de um encontro real com aquela cultura. No momento em que caminhava entre nuvens e llamas, refleti sobre o significado de estar nesse espaço sagrado que vê a espetacularização e o consumo transformarem história em produto.
Machu Picchu é um dos sítios arqueológicos mais visitados da América Latina. Segundo o Ministério de Comércio Exterior e Turismo do Peru, recebeu mais de 1,5 milhão de visitantes em 2018, ano em que fiz meus registros. Apesar disso, muito sobre sua história e função social permanece em mistério. Atualmente, acredita-se que a cidade tenha funcionado como retiro real.
Agora a cidadela entre nuvens serve a quem? No transfer a caminho de lá, um ocorrido se destacou: um dos organizadores do passeio ameaçou retirar uma peruana do veículo se ela não cedesse o lugar a um alemão que queria estar mais próximo de seu grupo para ouvir as traduções.
Chamou a atenção a violência com a qual a passageira foi abordada. A mulher resistiu veementemente a mudar de lugar e insistiu em dizer que tinha pagado pelo passeio como qualquer outro turista. Justamente por isso, ela parecia defender, não deveria ter sido tratada como foi.
Este projeto faz parte de minha investigação sobre o que são — e o que foram — as cidades e como seus cidadãos usufruem delas. É composto por 30 fotografias digitais, registradas em um nublado dia de outubro.
